quinta-feira, 28 de junho de 2007

Desejo-te ou desejo este desejo?!

Encontro-me sentada no sofá. A música deixa rasto neste canto, não sendo por mim recebida. Sinto-me envolvida na volúpia que encontro no teu olhar. Teu olhar que acolhe o meu corpo. Meu corpo que te pede luxúria. Apetece-me vagabundear sobre a nossa intimidade que ambiciono. Peço ao passado que me traga o calor do teu pescoço, com o cheiro entranhado na derme. Ainda sinto teus lábios presos entre meus dentes. Ainda sinto o momento.
Desejo-te e não sei o que isso é; só sei que me estonteia de tanto me agarrar afincadamente a este desejo, não desejando perdê-lo. Será este desejo uma brisa que se transforma em tornado que me acorda, que me açoita os sentidos e me lembra que estou aqui? Será que dou permissão a este desejo coexistir porque desejo ter este desejo? Será este desejar o desejo que o faz sobreviver ou será o objecto do desejo que o aviva? Sinto que a serenidade já há muito foi escamoteada pelo desejo. Este não vive da ilusão, mas comporta a ilusão como vertente virtual, enquanto expressão da minha realidade vedada aos outros.
Em emoções sou de poucas certezas. Tudo me surge carregado de neblina, a razão e até as tuas expressões. Tenho só uma certeza: não desejo qualquer um e porquanto não é a busca de prazer o meu móbil. Não é a necessidade que me atormenta. A necessidade é limitada mas não o desejo. A necessidade de prazer não pode ser minha – eu sei-o.
Será que este desejo de prazer, que permiti insuflar com o tempo, aumenta pelo perigo que me deveria afastar dele? Por vezes penso que não pretendo a satisfação deste prazer, mas por outras acho que controlo o sentido do meu querer para fugir à culpa. Por vezes, as minhas insistentes entregas ao desejo deixam-me cair no fosso que própria cavei e que me faço enfrentar perante a censura moral, que condena o meu tão desejado desejo. Penso em culpa: culpa de um pensamento, de uma palavra, de um gesto, de um toque, de um coito, de um gemido... só sinto culpa porque o outro me pode culpar. Mas sei que sou fraca e que me deixo entregar facilmente ao erotismo, fugindo da culpa rapidamente, que me quer ceifar o desejo ... ai!, como me possui este desejo!! Rapidamente me faço encontrar com o sustentáculo que me mantém na vertical: este desejo.
Será este desejo um preenchimento de um tédio? Mas como pode o tédio ter espaço na minha vida, se tento nunca lhe dar espaço de coexistência? Até porque se assim fosse não escolheria eu o objecto de desejo bem mais acessível, para concretizar a satisfação de prazer? Pois, mas, não procuro prazer, é verdade. Sinto-me tão embrulhada em pensamentos. Sinto-me tão desejosa de me embrulhar em teus braços.
Ai!!

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Depois de nus adivinhar cenários críveis


Lá fora: o silêncio sai das folhas caídas no soalhado do pátio. Lá fora: o desconhecido por agora.

Cá dentro: o relógio da sala acusa o pouco tempo que resta. É uma pressa a entrega.

Baloiço o olhar frente aos espelhos depostos de esguelha na tua sala de tudo receber...titubeio sobre o tapete num fruste tentar em me estatelar de fronte a ti... a vontade é mesmo quedar sobre ti.

Já rendida num abraço, solto o que há de nu em mim. Em postura frágil e inerte encontro-me deitada entre cetins a acariciarem-me os corpúsculos. Tocas à campainha dos meus sentidos: adormecem-me o domínio e acordam-me a lascívia. Sem eles nada fazia sentido neste pouco resto de pessoa que ambiciona a rendição do que há de devasso na concupiscência. Ofereço o meu corpo em troca de vãs caricias, de suspiros que seduzem o momento, de arrepios carregados de calor que visitam o prazer. Ofereço o meu corpo por uma vaidade da alma, que arranca a nitidez da sensatez e entrega como dádiva à estupidez.

Tudo muda depois dos tempos de quimera. Segue-se a acidez que sempre hiberna, sequiosa por explodir na facies do par. Vejo malignidade nos teus olhos, espelho dos olhos de todos nós. Não te quero mais, e não querer é poder. Há um mergulhar da tua dignidade no lodaçal do orgulho imódico que despersonalizou quem julgava conhecer. Vociferas que te resta dignidade quando o que cospes é um ciclone de estilhas pontiagudas residuais de um orgulho traído e deixas sufocar o digno que havia em ti. Tudo acaba, quando me entreguei a outros lábios, tapando os olhos à inocência. Em ânsias de tudo tornar a repetir e sentir, não sabendo que tornarei a ver os olhos de todos nós.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Quem tu és?!: és a nossa imagem



Sente o mundo girar!!
Há sequelas que perfuraram o ventre do mundo.
Na tua cegueira
Pensas colher o que te plantaram.
Ergues a mão
Dando mostras de que está vazia. Se os outros estão na miséria
É porque tu e os outros são a miséria humana.
Foste tu que te pariste.
E não te entregues ao doce engano.
Extremina o que fazem
Para que não sintas aquilo que és.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Textos no fundo do baú com pó

alguns dos trechos que vos apresento no blog são retirados do UVA: uma vida arquivada, onde sempre guardei o meu passado: poemas, cartas, petalas de flores que me ofereceram... a publicação de 11 de Maio ("para quem queira descortinar o insondável, não tente pegar pelo fio da linha temporal") é uma alusão ao facto de ter vários retalhos de textos retirados do UVA e outros actuais ... é intuito deixar sempre a incognita permanecer... mas hoje digo-vos que este é de 1997.

Vida recheada de vidas salvas.
Uma salva de palmas.
Mas não é espectáculo.
Caminho com os olhos dos outros
Desviados da minha existência só.
Chego a pensar que não existo,
Mas se não existisse não pensaria que não existia.
Ou afinal não penso,
Ou afinal existo.
Sei que penso demais.
Não existo, penso.
Existo no pensamento
E o meu pensamento existe.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Faz-te julgar de cego e a verdade foge-te da frente


Fonte: net
Montagem: Pessoa nenhuma

Conselhos para seres feliz
Recolhe-te no refúgio da tua vida e esquece a verdade que te circunda... e nada faças para a mudar...fecha os olhos se não queres ver...pensa em ti e só em ti...continua assim e sê feliz. Cruza os braços e senta-te...e pensa que tudo está bem ou que outros surgirão para mudar a verdade: um dia!!

Conselhos para sermos felizes
Olha e vê, porra!!
Faz alguma coisa, porra!! Mexe-te daí, porra!, ... sua alma entorpecida, acomodada!! Grita: dá-me as mãos amigo!! e vamos mudar a verdade!!...que tanto magoa para quem vê!

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Penso: entre a vida vivida e a pensada

Montagem: pessoa nenhuma
Pensando em nós...
entre os nós que deixei criar com os pensamentos...
penso que vivo uma vida sonhada...
o sonho de uma vida...
oiço o cantarolar de Almada Negreiros
não sei sonhar senão a vida
não sei viver senão o sonho!!
remeto-vos para Pessoa (Fernando)
Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra que é pensada,
E a única que temos
É essa que é divida
Entre a verdadeira e a errada.