terça-feira, 8 de maio de 2007

bailado entre estilhaços

Paira à tona de água
Uma vigração,
Há uma vaga mágoa
No meu coração


Não é porque a brisa
Ou o que quer que seja
Faça esta indecisa
Vibração que adeja,


Nem é porque eu sinta
Uma dor qualquer.
Minha alma é indistinta
Não sabe o que quer.


É uma dor serena,
Sofre porque vê.
Tenho tanta pena!
Soubesse eu de quê!...
(Fernando Pessoa)



As minhas vistas passam por estas letras. assumem significação quando há identificação. de tanto vislumbrar o facies da sofrega alma nas letras que li, dignifica-me o vazio. vazio a bailar. como revejo quem eu não sei quem sou!! penso, pinço grandes ilações da magnânima verdade que julgo haver em mim e ...torno-me a encontrar a bailar:
sem saber quem sou;
e, sem saber a vida que tenho de quem pertence.

Acrescento pessoa. não da minha pessoa. a do poeta. alma de poeta que há em fernando e não em mim.

Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.


O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo.
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.


Trémulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?
(Fernando Pessoa)

O meu vazio que traz e prega à alma um caos, recolhe-me todas as vontades e dá a mão à inércia. Deixo-me entregar. Quero-me entregar. viver no vazio é deixar-me cair no sonho. e sonho em ti. sonho em nós. nós só em sonhos.

nada me preenche.
nada me enche.
nada me intumesce.
tudo me foge ao senso.
tudo me interpela a pouca lógica que faço restar em mim.
tudo de ti me reitera a toda a hora e a todo o momento.
um sopro traz-me o teu rosto de volta à algibeira dos segredos. nada mais me resta. incrível que é: ter apenas a ilusão de te ter tido. só me resta a ilusória traição da memória dos momentos que vivemos. Entendes? só me resta o que não vivemos; mas, o crer e o querer viciam-me as lembranças retiradas à pinça da memória. Entendes? como me irrita o que sobrou de ti em mim, porque me deixou muito pouco espaço para mim. tanto que por vezes não sei o que quero de ti nem de mim. como aprecio a tua tristeza que vive em mim, quando pensas em mim, por me teres em vontades, mas não me teres em matéria. aprecio o teu sorriso que vive em mim, quando tu me escutas ao longe, de tão longe, bem de longe. Mas sei-o!, que quando pensas em mim, tomas-me por quem eu sou em mim. pouco sentes o que há de mim em ti, porque muito pouco tens de mim em ti. muito pouco há de sentires. sei-o!, que quando falas para mim, falas para mim. como queria que quando falasses para mim, falasses para dentro de ti - eu existiria em ti.

nada me preenche.
nada me enche.
nada me intumesce.
tudo me foge ao senso.
tudo me interpela a pouca lógica que faço restar em mim.
tudo de ti me reitera a toda a hora e a todo o momento.