Com rosto impassível, conversas.
Eu: oiço-te. Mas oiço sempre metade. Não oiço o que proferes.
Oiço a minha imaginação e ela pouco espaço dá para te
escutar, como qualquer um merece. Vou-me perdendo na contemplação do teu rosto. Pego na
conversa a meio. Pego na conversa no fim.
Sinto-me pouco eu, perto de ti.
Com rosto impassível, conversas.
Eu: respondo. Mas respondo sempre metade. Não respondo o que
queria proferir. E quando o faço parece que tenho de medir a dimensão das
palavras que conseguiram ganhar espaço neuronal. São poucas as palavras que
ganharam espaço.
Em discurso a roçar o gélido, com postura inquebrável, no
entanto, tens valores morais infrangíveis e apreciáveis, pouco comuns.
Sinto-me pouco eu, perto de ti.
Sinto que não me deixo conhecer. Não me deixo conhecer
porque não me deixas dar a conhecer? Parece nascer indiferença em ti quando
falo em mim. Não me queres conhecer?
Quero estar perto de ti, mas estranhamente sinto-me muito
pouco eu, porque acho que não te interessa o meu eu. Penso, que, também, porque me sinto avaliada.
Não julgar antes de conhecer! - Mas julgamos sempre. E
conhecer? - Nunca conhecemos! Se assim é, porque divago eu.
Quando chego a este espaço, a este mesmo espaço, tão exíguo
sem ti, sou invadida pela amargura de não te ter segredado os meus sonhos, de não te
ter falado sem freios. Faço-o em multidões e não o faço contigo.
De facto, sinto-me pouco eu, perto de ti.
Mas longe de ti, também, já me sinto pouco eu….
Prefiro o pouco de mim perto de ti.