terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Oiço

Entre encantos e cantos

Prazer mundano na caverna do silêncio
ficaste na memória da minha boca nunca por ti beijada
flama porejada
quase-quase deitada e recurvada
ante a ação volteio já com tez musicada
à força de tanto tirar e recolocar, vim luxuriada
Pauso.

Impoluta sairei quando a lágrima, não caída, rolar a dor encarnada.

Tanto ter-te em mim

Poesia, saída em libertação de almas, não pode ser só respostas.
Filosofia, sendo antipoética, começando por uma pergunta, indicia que há libertação da intimidade.
Afinal que faço sempre eu? Ligada à intimidade e fazendo sempre perguntas, o que faço eu?

Sempre posso escolher o quanto me importo.
Parece que escolho importar-me muito.
Se importa, entra no espaço da emoção.
Se importa, é importante para mim.
Importante importa. Importante penetra em mim. Importante entra.

Medo do que importa?
Parece pânico, porque este remete para a irracionalidade e inação.
Pânico do que importa? Pânico do que é importante?
Ou não será importante? não importará?

Como não  importa?, se quero tanto ter-te em mim.



Quero despir-me de mim





Quero despir-me de mim. Cansa-me este sentir infetado.

Não vejo luz. Sinto tanto a cicatriz da lesão nunca nascida. Será puro suborno quando em sopro te exponho que a lesão não foi parida? Autoinfligida?

Porque me atrai, como polo aposto, a confusão, o complexo? Para ficar perto do impossível?, para me distanciar de uma ténue possibilidade da aproximação do diferente meio desconhecido?

Esta observância pela minha obsessão por pessoas intrincadas com a complexidade é o meu modo eterno de me afastar delas?, estando sempre em segurança, alheada da divisão, da dívida que viria se fosse um tanto de inverso.

Infeto a possibilidade de revezamento do meu caminho, assim que escolho quem escolhi. Armadilho as relações, para as nunca tornar relíquias, porque nunca existiram. Só em mim. Mas trazem-me angústias, porque parece querer com todas as minhas forças já armadas derrubar o presente para salvar o premente futuro.

Sinto tanto que perdi o que não tive. Que significação se poderá dar a este não saber estar neste meu único estar infetado?

Quero despir-me de mim. Cansa-me este sentir.
Quero despir-me de mim e viver-te?

Intranquila!



Sempre na incerteza. Entre agora e o já agora. Entre agora e um tanto de tempo que nunca mais se abeira. Sempre na incerteza. 

Comunico contigo e nada me entendo.
Perdida fico, na periferia do vazio que resta entre as palavras não proferidas.
Perdida pela mensagem que nunca recebi.
Perdida pela mensagem que recebi, mas nada diz, simplesmente um decreto de cordialidade.
Cordialidade é melhor do que minimidade, pensa ou penso que pensa.
Anuência gentil, cavalheiresca emojizada é muito para quem o diz? Se assim for, não há muito a dizer ou há travo no dizer? Há refreio no dizer para não fazer sofrer quem não sabe, mas que no condicional sofre? Há amordaço no dizer para não fazer sofrer quem lê a aquiescência?

Será:
  a maioria do vazio, do vácuo (que não é o nada!) comunicado, é, neste caso, sinónimo de nada para dizer?
  umas quantas vezes para não ter que deixar de ser verdadeiro e deixar de lado a complacência? outras tantas, para não ser infiel a quem existe mais no coração do que na vida vivenciada?

Envio o que pensei que poderia ser conversa. Silêncio recebido, nada reclamado entre sol que pisei assim que o ouvi.
Envio o que pensei que poderia ser conversa. Desta vez, foi um sopro de conversa, mas tão fugidia que parece querer fugir. Quem foge quer fugir? Ou, quem foge não sabe como ficar?

Respostas fugidias são sinónimas de fuga da pessoa com quem se conversa?

Respostas fugidias são sinónimas de fuga da possibilidade de traição platonizada? Consegue haver traição platonizada sem paixão platonizada por essa pessoa? Confuso. Intranquilo. 

Intranquila!