num canto me encontro.
sem qualquer encanto.
tão pouco de mim, aqui, ali. de tanto que dei de mim, nada fica.
mas mesmo nada ficando, vou dando tudo de mim.
e mais nada fica. e mais continuo a tudo dar.
nada merecem. não aos que tudo dei, mas aos que nada reconhecem.
num canto me encontro.
sem qualquer encanto.
pairo sobre mim. pairo sobre o momento.
revejo. revejo.
e não vejo o que viram. e vejo o que não viram.
injustiçada, presa num presente que teima em não futurar e sem nunca vislumbrar futuro.
correndo sobre o mesmo metro, colhido, num antro por mim escolhido, deixam-me parada
correndo para poder saltar, sinto que consigo sempre a proeza de saltar para baixo.
salto e sempre para mais baixo.
salto e sempre para mais baixo.
esforço. esforço-me. mas, só me encontro aqui.
e aqui é só um canto sem encanto.
acreditando sempre que a luta eleva o mundo que há em mim e para além de mim.
mas afinal, a luta pelo futuro deixa-me ficar no mundo que mora em mim agora.
num canto me encontro.
sem qualquer encanto.