quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Num canto me encontro. sem qualquer encanto

 

num canto me encontro.

sem qualquer encanto.


tão pouco de mim, aqui, ali. de tanto que dei de mim, nada fica. 

mas mesmo nada ficando, vou dando tudo de mim. 

e mais nada fica. e mais continuo a tudo dar. 


nada merecem. não aos que tudo dei, mas aos que nada reconhecem.

num canto me encontro.

sem qualquer encanto.


pairo sobre mim. pairo sobre o momento.

 revejo. revejo. 

e não vejo o que viram. e vejo o que não viram.


injustiçada, presa num presente que teima em não futurar e sem nunca vislumbrar futuro.

correndo sobre o mesmo metro, colhido, num antro por mim escolhido, deixam-me parada

correndo para poder saltar, sinto que consigo sempre a proeza de saltar para baixo. 

salto e sempre para mais baixo.

salto e sempre para mais baixo.

esforço. esforço-me. mas, só me encontro aqui.

e aqui é só um canto sem encanto.

 

acreditando sempre que a luta eleva o mundo que há em mim e para além de mim. 

mas afinal, a luta pelo futuro deixa-me ficar no mundo que mora em mim agora.


num canto me encontro.

sem qualquer encanto.