sexta-feira, 18 de maio de 2007

Mais retalhos da história "memórias de uma velha maluca"

Continuando (...)

3. O encontro

Seria milagre de Deus, sua bondade e generosidade? Por vezes Deus parece dar-nos permissão para a ventura, mas decerto que devemos desconfiar. Vejamos!: uma rapariga de 11/12 anos menstruada, tem as condições para procriar e contribuir para o incremento do numero populacional. Ele deu permissão à criança de gerar um homem, no entanto criou uma sociedade que a considera leviana, com vida pecaminosa se ela deixar entrar na sua vagina um pénis, que tenha orgasmos, que tenha filhos. Mais!, ele poderá castigá-la, também, pela deformidade do ser nascido daquele útero. Deus estabeleceu uma idade mais apropriada para engravidar e as mulheres que não tiverem filhos dentro desse espaço temporal poderão ser castigadas. Não são as jovens que têm de pedir perdão pelos seus pecados a Deus. Considero que Ele é que deveria pedir perdão pelos seus embustes e á posteriori vingança pelos nossos actos.
(vou saltar propositadamente o encontro entre Isabel e a miúda de rua).
Segue-se a secção em que isabel recorre a todos os recursos de manipulação para convencer Mário a adoptar a miuda de rua). Sentem-se!

4. A proposta

O arrependimento de uma vida já vivida e que não pode ser retomada transporta consigo um dos piores estados: ser-se infeliz. Tecer cenários no futuro torna as nossas decisões mais sustentáveis. Escolher pode parecer fácil – escolhe-se o melhor para nós -, mas só o é quando se sabe o que se quer ou o que não se quer. Ainda há o problema dos outros, mas tendemos a pôr-nos sempre em primeiro lugar, por isso é o somenos. Tomar opções acertadas na vida de modo a não nutrirmos remorsos só será verosímil quando sabemos efectivamente quais as acertadas – e as opções por vezes surgem num plano tão nublado, que venda a razão de qualquer um. Não é fácil! Isabel pensou; projectou-se no futuro; sonhou. E tomou uma decisão – não sabia se a acertada.

Isabel chegara a casa cansada. Estendeu as pernas, um pouco edemaciadas, no sofá. Retirou as meias que apertavam-lhe as pernas. Ligou a TV. Seria a solução ideal – congeminava ela, roendo as unhas. Passava de canal a canal. As imagens passavam-lhe na retina. Mário ainda não chegara. Era o dia que ia fazer-lhe a proposta. Fez o jantar, tomou um duche e vestiu um top e umas calças justas. Esperava com isto chamar-lhe a atenção para o que iria expor. Pensou, o momento deverá ser solene. E nem sequer quero erguer o seu pénis só de olhar para mim, se não, não converso nada. E mudou para uma indumentária mais discreta. Acendeu um incenso que lhe restava na dispensa, de modo a lançar no ar um cheiro que apelasse à benevolência de Mário – acreditava no poder persuasivo do cheiro. Sentiu o barulho das chaves na porta: uma volta, duas voltas. A porta abriu. Era Mário. Jantaram. E fizeram sexo. Nada conversaram. Inicialmente atribuiu as culpas ao incenso, que deveria estar fora do prazo ou a vendedora vendeu-lhe o que apelava à paixão. Depois, racionalmente, considerou que teria de mudar de cenário, porque aquele era o antro das penetrações infortuítas.

Sábado à tarde, convidou Mário para um passeio no lago e para jantar no restaurante da ponte. A panorâmica era deslumbrante, inebriante até!, e com falas mansas talvez o convencesse. Talvez! Mário disse que não tinha tempo, que tinha muito que fazer e que podiam muito bem fazer logo sexo sem esses preparos todos, porque a mente dele nesse dia já estava liberta dos detritos da sociedade actual, porque tinha feito uma sessão de ioga, que haviam introduzido no programa inaugural do serviço de saúde ocupacional. Sentia-se bem. Pegou nela pela cintura e lançou-a no leito matrimonial. A cama cedeu ao estremeção, mas emitiu um ranger. Ela, já sem pensar em gerar uma criança, abriu as pernas e deixou-se invadir primeiro. Convenceria-o depois a dar o passeio que ela planeara. Fez sexo com ele, mas a sua imaginação levou o seu corpo penetrado para bem longe daquele quarto. Enquanto tudo sentia e gemia de prazer, viu-se num comboio com vários homens a perguntar se poderiam fodê-la. A linguagem da imaginação não é domesticada, por isso assim como ela imaginou, assim eu conto. Sentia vários homens a tocá-la, a puxar os cabelos, a mordiscar os mamilos, a lamber as orelhas. Faziam fila para a penetrar. Fez com tantos que perdeu a conta. Sentia a vagina quente e a latejar. Deixou levar o corpo a sentir pequenas convulsões aprazíveis. Quando abriu os olhos, viu o rosto do seu marido. É claro que a história que imaginou não fazia sentido, mas quando se faz sexo não se pode estar a pensar em grandes enredos, se não perdem-se as sensações. A historieta fantasiada não foi partilhada com Mário, como já havia feito várias vezes. Enquanto o faziam, ela contava histórias eróticas e ele acrescentava sempre retalhos pornográficos, obscenos, que ela apreciava.

Ela levantou-se e foi-se lavar. Ouviu-se o som da água do duche a correr durante meia hora. Sentiu-se fresca e limpa. Acordou Mário, que se encontrava na cama de pernas abertas, de pénis murcho. Ela foi ao bar buscar um copo de moscatel. Colocou umas pedras de gelo. Ligou o rádio e sentou-se nua no cadeirão do quarto a ouvir portishead e a beber. Repousante! Revitalizante! Lembrou-se de repente do convite para o passeio para o convencer. Tinha de o convencer. Quer dizer!, não sabia muito bem se seria o melhor, mas mesmo assim estava determinada a pressioná-lo na escolha. Era melhor mudar de estratégia de persuasão. O melhor seria apelar à compaixão.

No dia seguinte, Mário regressou do trabalho, conforme o costume das suas rotinas. Isabel não estava em casa. Dissera no dia anterior que iria para Sintra escrever no seu próximo livro. Sintra era a sua musa instigadora para o encontro das melhores palavras que constróem a melhor história. Sentou-se na sala de estar. Adormeceu por breves instantes. Tocou o telefone. Levantou-se. Era engano. Foi à caixa do correio: contas da luz, da água, prospectos de viagens e duas cartas. Dirigiu-se à cozinha. Uma era endereçada para ele. Era da prima. Da prima. Sentiu o seu facies ficar congestionado. Sabia que acabara de corar. Se fosse visto pela sua mulher ela iria, decerto, desconfiar de algo. Estava furioso. Furioso! Não só se encontrava colérico pelo atrevimento da prima como também consigo próprio, pois não conseguia dominar as demandas do coração e os efeitos que este lhe desencadeava no seu sistema vascular. O seu corpo, mais cedo ou mais tarde, iria denuncia-lo. Seria o seu próprio delator. Quando nos atribuímos culpa por algum acontecimento somos invadidos por um fardo violento, capaz de estraçalhar a nossa integridade mental. Mas o seu discurso só desferia a culpa na prima, omitindo o seu sentimento de co-culpado, como se um público o ouvisse e o recriminasse. Vociferou palavrões e desferiu um murro na bancada da cozinha: que atrevimento o dela de me enviar uma carta para casa. Hei-de as dizer, das boas. Que atrasada. Nem se atreveu a lê-la ali em casa. Guardou-a no bolso das calças. Depois, com receio de Isabel a descobrir correu para a garagem e guardou-a no caixote das ferramentas. Pôs uns trapos em cima – assim não deveria encontra-la. Com tempo, logo iria lê-la. Ou se calhar nem valia a pena, porque já sabia do que se tratava. Estúpida!- pensou. Voltou para a cozinha e pegou na outra carta. O nome do destinatário no envelope era imperceptível. Abriu-a. Tinha dificuldade em ler a letra quase ilegível; parecia de uma criança que começara agora a aprender a escrever.

Meo caro senhore

So Clara
Vivo na roa. Tenho fome. So popre. Poco tenho para alen da ropa.

Mário interrompeu a leitura. Esta carta deveria ser engano, pensou. Começou a coçar a cabeça e a enrolar uma madeixa imaginária. Não era fácil auferir o sentido das palavras. Tinha tantos erros, que só poderia ser de uma criança. Continuou.

So meiga. So espeta. So trapalhadora.
Conheci soa espoza. Somos amiga.
Queria emtam pedire a voçe se me podia colhere, como se filha foçe. Podia ser voça filha. Primero podia conhecerme. Si, se calhare to a falare muto, mas desculpe precisava de ums pais que perdi os meu.


Mário interrompeu a leitura. Começou a latejar-lhe a cabeça, na região parietal. Levou as mãos à cabeça, fazendo pressão no local doloroso. Foi buscar um analgésico à farmácia que se encontrava na casa de banho. Estava tão confuso. Seria engano a carta? – pensou. Parecia que não, porque falava na mulher dele. Estava entregue a um enrodilhado de cogitações e de indagações que parecia que o estonteavam: incrível, como Isabel não me falou nesta tal de Clara? Como posso aceitar uma criança como filha se nem a conheço? Só eu! Só a mim! Mas que raio! Nem sei se estou feliz com isto, se empertigado. Se calhar estou as duas coisas. Não!: feliz não. Perplexo sim. Mas que raio! Nem sei a idade da criança - admitindo que seja uma criança – sim!, partindo deste pressuposto. E indignado, também estou: então, mas, se Isabel é sua amiga não me disse porra alguma. Que diabo! Pegou novamente na carta com firmeza. Abanou a carta várias vezes, de modo a esta ficar rígida, tal qual ele se encontrava: corpo hirto e espirito absorto. Puxou as calças para cima. Cismado, leu novamente a primeira parte da carta e depois, avançou na leitura.

Pa acabare, queria falare pa pensare bem. Pudiamos conbinare uma saida os 3. Desejo muto, muto qe goste de mi.
Fale com sua espoza pa conbinare.

Clara, tenho 11 ano.
Desculpe os erro mas andei poco na escola. Mas aprendo rapido.

Perplexo dirigiu-se para a sala, deixou cair o corpo inerte no sofá e releu a carta. Releu-a e releu-a, como se conseguisse descobrir algo mais lendo-a muitas vezes. Pensou inicialmente que seria uma brincadeira de criança. Depois acreditou (a força do querer tornou-se sobreponível à força do crer) que as palavras até teriam alguma veracidade, mas que as duas não seriam assim tão amigas, como a tal Clara fazia parecer na carta. Acreditou que Isabel, quando soubesse, se iria rir. Sentindo-se mais relaxado, deixou o corpo escorregar pelo sofá. Deitado, olhou para um ponto – qual não sei- e imaginou os dois a rirem-se do atrevimento da pequena menina, desventurada na vida. Com este pensamento, esboçou um sorriso e considerou que estava a ser pateta ao se assustar daquela maneira com aquela carta. Mais perigosa se afigurava para o seu futuro a outra carta: a da prima. Dominado pela raiva, ergueu o corpo de rompante do sofá. (Gosto sempre de frisar o sentimento que se apodera da pessoa, precedente de qualquer acção. O sentimento tem um poder único de comandar o corpo e os seus movimentos de uma forma muito sui generis. A brusquidão dos movimentos é sempre consentâneo com sentimentos possantes e violentos. A leveza, a delicadeza dos movimentos são sempre demonstrativos de estados emocionais moderados, indicativos de tranquilidade). Já com os pensamentos focalizados na primeira carta acabou por se dirigir ao telefone para dar um bom responso à prima. Que burra! Deitar tudo a perder desta maneira. Eu já lhe digo umas tantas -. Terminadas estas palavras rugidas, Isabel entrou em casa, e interpelou-o no sentido de averiguar a quem se dirigia ele: era a mim que te referias? Ah!, que ideia a tua. – retorquiu ele.- Tens com cada uma. Não, não é nada disso. Estava-me a referir à Dina do escritório que denunciou uns clientes sem me pedir opinião. Enfim, estava a resmungar sozinho. Coisas do trabalho. Bom, ouve lá, precisava de falar contigo um assunto importante. Quer dizer, acho que é importante. Olha lá, despe o casaco. Aqui está calor. Não sentes calor aqui? Temos que comprar mais ventoinhas. Ou se calhar, temos que optar pelo ar condicionado. Este verão tem sido uma brasa. Insuportável. Bom, não interessa. Estava eu para te dizer que, recebi uma carta de uma tal Clara, sabes quem é? Isabel, com um ar meditativo, volveu, Clara?! Clara?! Eh pá!, só estou a ver uma miúda amorosa que conheci há uns tempos ... é uma miúda de rua, estás a perceber? Pobre. Órfã. Coitada da miúda. Por acaso, tenho pena dela. Era para te ter falado dela, mas ando tão absorvida pelo meu novo romance que me esqueci. Mário deu-lhe a carta para as mãos e ordenou-lhe que lesse. Isabel não conseguiu ler a carta toda. No desempenho de sua teatralidade, ela começou o seu pranto dramático, sacudida por fortes solavancos desencadeados por um choro convulsivante. Lançou-se nos braços do marido e entre soluços balbuciava uns monossílabos que pretendiam ascender a palavras, mas que acabaram por se tornar sons imperceptíveis: eu, eu ... ahh! Coi...coi...da..da!! Má...Má...io...io!! - Ele pregou-lhe um ar tranquilo e controlado: respira fundo e tenta falar pausadamente, se não, não percebo nada do que me queres dizer. Pegou nas mãos dela e levou-as ao seu peito, junto do coração. Esfregou-lhe o cabelo macio e sedoso. Deslizou as mãos pelo pescoço e fez-lhe uma breve massagem. Ele estava habituado a estes ataques de histeria, apelativos de sua atenção. Sabia que eram manobras de compaixão (ele evitava pensar que eram efectivamente manobras de manipulação), de modo a conduzirem as suas decisões ao seu propósito. Cansado daquela atitude hiperbólica de sua esposa e desejoso que aquele funesto dia, parecendo interminável perante os seus limites de resistência diária, acabasse, ele acabou por sucumbir à atitude drástica mas de rápidos efeitos: à agressividade verbal de modo a compor alguma ordem e paz ao momento. Os vizinhos com certeza que ouviram o grito vindo da moradia nº 513. Cala-te! - Mais calmamente ele sublinhou: cala-te! Acalma-te, se não não chegamos a lado algum. Por favor! Senta-te no sofá. Vamos conversar. Conheces esta tal Clara, já percebi. Já percebi que sim. Pronto! Estou metido numa alhada, também já estou a começar a perceber. Sabias que ela pretendia que a adoptássemos? Já sabias disto? Mas, que bela encrenca que me arranjaste. Desembucha. Isabel ficou atónita a mirá-lo desde que ele lançou o grito e desde então não ouviu mais nada, só pensava: isto não resultou. Este não foi um bom dia. Devia ter sido o dia da yoga, que ele vinha relaxado e a decisão iria ser tomada de animo mais leve. De certeza que ele hoje não foi à yoga. Ainda para mais este problema com a Dina. Que cabra, lixou-me tudo. A culpa é dela. É dela. Cabra. Nunca gostei dela. Incrível como os pensamentos de Isabel já derivavam na Dina, que já nem lá trabalhava, na realidade. De repente, ela sentiu que estava a acordar de um coma profundo e começava a ouvir um murmúrio, lá ao longe – era a voz de Mário. Deparou-se com ele a olhá-la fixamente nos olhos, bem de perto, e quase a sussurrar-lhe vagarosamente, Isabel! Isabel! Estás-me a ouvir? Estou a falar contigo. Diz-me lá: conhece-la? Queres o quê? Ela quer o quê? Vá lá! Por amor de Deus, fala. Estás-me a ouvir? Querida, desculpa ter gritado contigo, mas estou cansado. Fala! De chofre iluminou-se uma ideia a Isabel: durante toda a sua vida havia aproveitado como aliada a fraqueza dos outros, subjugada à sua mercê. (As gentes na demonstra de suas fraquezas individuais estão a munir os persuasores de autênticas armas de manipulação. Daí se infere, igualmente, que muitas vezes, os opressores se identificam como tal ao identificarem os seus opositores, os oprimidos. Os primeiros acabam por deportar a sua própria mesquinhez quando a balizam nos outros. A subserviência dos fracos aos fortes é o corolário de uma diferença perniciosa criada por ambos - sim!, não julguem que vos direi que é uma diferença criada pelos fortes. Pretendo ser propositadamente redundante!: a diferença é criada por elementos discrepantes e só assim. Mas, de facto, ambos ignoram que estão somente a contribuir para a clausura de entre iguais e a sua própria clausura.) Iria levá-lo à exaustão até ele ceder ao seu querer. Isabel lançou-lhe um olhar penetrante, complacente. E fora esse olhar o persuasor da decisão de Mário. Um olhar. Um único olhar. Ele apressou-se a alvitrar, ok, queres tu dizer o quê? que a queres adoptar? Mas eu quero um filho meu. Dos meus genes. Meu!!, ouviste bem? Era o momento da derradeira palavra. (A palavra certa é capaz de mudar destinos de vidas, de percursos da história). Vagueou o olhar pelo tecto. Levou as mãos aos bolsos e deixou-se cair no sofá. Mário mirava-a, não conseguindo prever os seus jeitos, o seu discurso, não conseguindo perceber sequer o destino do olhar de Isabel. Impaciente, levantou-lhe o sobrolho e bateu o pé esquerdo compassadamente no soalho da sala, emitindo um som inexorável que levantava no silêncio uma inquietude penetrante nas suas almas. Ouve meu querido. A decisão é tua. Eu gosto, de facto, da Clara, não o vou desmentir. Ela nunca me tinha falado no seu desejo de ser adoptada. Acredita em mim, querido! Vou-te contar como a conheci. E foi assim que ela deu inicio ao dialogo, que já não haviam tido algum desde há muito. O primeiro dialogo, retomado de há muito, fora sobre mim. A minha adopção. Ela pegou-lhe no punho e puxou-o para junto de si, no sofá. Ela falou durante muito tempo e ele retorquia, com ela a escutar atentamente as suas intervenções orais, porque assim lhe convinha. Era do seu interesse, entregar-se ao dialogo, retendo cada palavra, cada pausa, cada esgar, como se daí conseguisse prever a sua decisão. Querido, findou ela, eu não sabia. Mas, se ela teve esta coragem revela que é decidida e que gosta deveras de mim. O facto de a adoptarmos, ou se preferires, de a acolhermos em nosso lar, não significa que não podemos ter um filho nosso. Podemos continuar a tentar, com tempo, percebes. Pode ser que entretanto, como estamos distraídos com a Clara, na sua integração em casa, na escola, consigamos ter outro filho, quando menos esperarmos. Não sei, querido. A ideia, não me parece nada desfavorável, digo-te já. E de forma astuta, ela travara, de chofre, o seu discurso, pois vira no rosto de Mário, um prenuncio de uma decisão auspiciosa ao seu querer. Mário afundou-se em divagações: Isabel é brilhante. Nada como ter uma criança para livrar a mente de augúrios que contribuem para a infertilização num homem. No prazer consumido em jogos de distracção nascerá o meu filho feliz e saudável. Já havia tido indícios do destino que não seria na obrigação de afazeres de dois corpos deitados, jogados ao abandono da sorte, que conseguiria um filho. Eu tornei-me parte integrante no prelúdio de uma fase mais prometedora para o casal, mas assim não o foi por muito tempo.