sexta-feira, 15 de junho de 2007

Depois de nus adivinhar cenários críveis


Lá fora: o silêncio sai das folhas caídas no soalhado do pátio. Lá fora: o desconhecido por agora.

Cá dentro: o relógio da sala acusa o pouco tempo que resta. É uma pressa a entrega.

Baloiço o olhar frente aos espelhos depostos de esguelha na tua sala de tudo receber...titubeio sobre o tapete num fruste tentar em me estatelar de fronte a ti... a vontade é mesmo quedar sobre ti.

Já rendida num abraço, solto o que há de nu em mim. Em postura frágil e inerte encontro-me deitada entre cetins a acariciarem-me os corpúsculos. Tocas à campainha dos meus sentidos: adormecem-me o domínio e acordam-me a lascívia. Sem eles nada fazia sentido neste pouco resto de pessoa que ambiciona a rendição do que há de devasso na concupiscência. Ofereço o meu corpo em troca de vãs caricias, de suspiros que seduzem o momento, de arrepios carregados de calor que visitam o prazer. Ofereço o meu corpo por uma vaidade da alma, que arranca a nitidez da sensatez e entrega como dádiva à estupidez.

Tudo muda depois dos tempos de quimera. Segue-se a acidez que sempre hiberna, sequiosa por explodir na facies do par. Vejo malignidade nos teus olhos, espelho dos olhos de todos nós. Não te quero mais, e não querer é poder. Há um mergulhar da tua dignidade no lodaçal do orgulho imódico que despersonalizou quem julgava conhecer. Vociferas que te resta dignidade quando o que cospes é um ciclone de estilhas pontiagudas residuais de um orgulho traído e deixas sufocar o digno que havia em ti. Tudo acaba, quando me entreguei a outros lábios, tapando os olhos à inocência. Em ânsias de tudo tornar a repetir e sentir, não sabendo que tornarei a ver os olhos de todos nós.