segunda-feira, 23 de julho de 2007

Memórias de uma velha maluca

Continuando com a história de "memórias de uma velha maluca" para os fiéis que a acompanham. .. este trecho é sobre uma manhã de Mário, em que já conhecia Isabel e tentava ter filhos, mas esta ainda não conhecia a miuda de rua ( a velha maluca que narra a história na primeira pessoa).

8 – Uma manhã de Mário

Mário, depois de mais uma vez ter feito sexo com Isabel noutra posição, levantou-se da cama e deixou-a a dormir. Foi para a janela. Eram 5 da tarde, viu ele no relógio. Pela primeira vez depois de muito tempo pensou em Helena, na descontraída vida que levara até então. Recordou todas as amantes que tivera. Veio-lhe à memória a fogosidade de Isabel que tanto o atraía. Ele ainda a amava, mas temia que ela não sentisse mais nada por ele, temia que ela o visse apenas como um portador de espermatozóides com qualidade capaz de dignifica-la com a vinda dum bebé. Pensou que talvez tivesse embarcado no rumo que ela o conduzira. Ela numa noite sonhou que estava grávida e a partir de então desejou e fez desejar a responsabilidade de ter um filho. Agora, também, obstinado pela ideia da concepção de um filho nem faziam amor. Que angustiante! – pensou. Encontrava-se a olhar pela janela. Olhava mas não via nada. Via em sua frente o passado, o corpo de Isabel encavalitado no dele, das palavras ríspidas dela: nesta posição não dá! Levanta-me a anca, pode ser que dê melhor. Faz devagar! Nas suas relações sexuais não havia espaço para a espontaneidade, para a liberdade. (No sexo recria-se a liberdade). Sentia-se de tal forma controlado, que por vezes parecia que o seu pénis estava a ser vigiado por uma câmara de filmar.

Agora apreciava o céu azul; era o azul que afagava as suas inquietações. Mergulhado em cogitações, deixou cair a cabeça, como com o peso das indagações, embatendo de leve no vidro da janela:
quando este desejo passou a ser meu também? como passou a ser meu se não o era até à data? e se por acaso não o satisfizesse deixar-me-ia, abandonar-me-ia? Ficaria a saber se ela de facto ama-me, capaz de saltar os obstáculos estacados pela vida de mãos dadas comigo? ou se largar-me-ia?

O sol estava a ofuscar-lhe a vista. Teve de semicerrar as pálpebras para se proteger do poder nefasto daquela luz. Por momentos deixou de pensar em Isabel – via tudo amarelo. Libertou-se por momentos dos pensamentos. Deixou-se ficar num estado de apatia, com o rosto erguido para a paisagem. A luz libertou-o. Pensou no simples facto de ter deixado de pensar nela, quando sentiu uma invasão poderosa da luz. Era o incomodo que o libertava. Parecia que o sofrimento físico desviava-o das obsessões.

(...)

Logo a seguir apreciou as nuvens baixas que assumiam vários tons, cinzento, cor de rosa, com o sol a querer espreitar por entre elas. Lindo! Sentiu uma lágrima a escapar do canto do olho e a escorrer pelo rosto abaixo, fazendo-lhe cócegas. Não derramava lagrimas por se sentir triste, mas por sentir um enternecer pelo esplender do quadro vivo que se deparava perante o seu corpo nu. Afinal, o ideal não seria castigar o corpo para libertar a mente, mas sim abrir a mente ao mundo. Focalizou-se nos aspectos positivos da sua vida: tinha algum dinheiro no banco, uma cama com tecto, o estômago confortável, o frigorifico bem recheado de comida, água potável e uma sanita onde podia libertar os detritos do corpo. Confortou-se com a possibilidade de todos os homens terem problemas e uns bem mais graves do que os dele.

Eu preocupava-me com a busca incessante de comida e de um canto para dormir e outro para urinar e obrar; Mário preocupava-se com a sua vida matrimonial. Isabel com os seus vários caprichos; Helena com a falta de telefonemas do homem que a renegou noutros tempos.

7 comentários:

®efeneto disse...

...muitas vezes as ideias se cruzam. Publiquei uma prosa sensual e venho aqui encontrar outra...terei que ir buscar o fio á meada, mas será a história de uma "velha maluca"??? Irei descobrir...um beijo e obrigado pela visita...a resposta ao comentário lá estará como sempre. Outro beijo pois nossas prosas merecem.

®efeneto disse...

...na impossibilidade de o fazer pessoalmente, senão teria que alugar o Estádio Nacional [serve para todos os clubes], venho desta maneira brincalhona agradecer aos amigo(a)s as visitas e palavras sempre deliciosas e gratificantes. Um fim-de-semana cheio daquilo que os possam fazer felizes é o que mais desejo. Um abraço amigo para os homens, um ramo de beijos para as mulheres, os outros, bem os outros que escolham...voltem sempre e sejam felizes. efeneto.

ainda tenho que vir ver a velha...beijinho

®efeneto disse...

...obrigado amiga pela sua visita. Claro que não levio a mal, uma dica...pode retirar a parte de baixo onde diz:...
SLIDE::Make Your OV:: *View All Images:....
De resto ficou perfeito e bonito para quem tem bom gosto como nòs...(risos)...
Continuação de bom fim de semana disponha sempre...beijo amigo em slide show

Elsa Menoita disse...

pois, mas eu também não estou a ver como se retira...também achei que não estava estético...

®efeneto disse...

...mandei email a explicar...beijo.

O Sibarita disse...

Oi sua menina! Que belo texto heim?
Tá muito bom mesmo, faça fé!

Desculpe a demora em vir aqui eu estou com meu pai hospitalizado, agora, está bem melhor, por isso levei esse tempo fora do blog.

bjs.
O Sibarito

Anónimo disse...

Os velhos(os mais idosos) teem sempre belas historias a contar...

Doce beijo