sexta-feira, 26 de outubro de 2012

é esta dualidade que tipifica a minha unicidade

Na explosão de emoção, o corpo exprime.
Na nulidade de emoção, o corpo exprime.
Vive-se desta dualidade.
Vive-se nesta dualidade.

Se te quero, não posso.
Se posso, não quero.
Vive-se desta dualidade.
Vive-se nesta dualidade.

O cristalino da dualidade torna-nos vulneráveis aos poderes/quereres e poderes/fazeres dos outros.
Nem sempre nos são oferecidas as oportunidades de querermos o que podemos.
Ou podemos, mas não queremos.
Ou queremos e não podemos.

Não sei porque estranho a tua dualidade.
Não me conheces mas queres-me.
Queres-me porque anseias conhecer-me?
Queres-me porque queres descobrir o meu tanto querer?
Queres conhecer a minha explosão de emoção na expressão do corpo?

Surgiu-me clarividência!! Não há dualidade em ti. Só em mim e em ti que existes em mim. Eu não me conheço e transponho as minhas dúvidas sobre ti para uma dualidade nunca nascida. Leio em ti o modo como lês o mundo.

Para ti, somos hólon, em que a própria intersubjetividade e relatividade oferecem o sentido, e encontram a unidade tudo, começando em nós.
Para ti, queres-me! e podes.
Para ti, queres-me para me descobrires em explosão de emoção na expressão do corpo.
És claro.
Vês com clareza.

 Eu verei sempre tudo entre uma dualidade incandescente que me enevoa o discernimento e eventualmente te agita a tua afincada clareza confortável.

Hoje, ao ter-te em mim vislumbras o exagero. A luxúria.
Amanhã, ao ter-te em mim sentes a suavidade do romance - que provavelmente transbordará, também, em exagero.
Ter-te em mim, será, sempre, uma troca de toques secretos únicos. Como se em tela nos visse, mas nunca pintada e jamais levada à obra encenada.

Sou assim. Poesia em tudo o que penso e questionamento sobre tudo o que fiz, não fiz e poderia ter feito.
Contudo, também, é esta a dualidade que tipifica a minha unicidade.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

expressão do corpo. explosão da emoção.


sensual. artistico. expressão do corpo. explosão da emoção.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

como poderás ver-me, se estou ali?

sou coberta pela vontade de te segredar...
ainda agora aqui estás, e já sou só saudade balofa, em alma anorética. já  nada mais resta de mim, contigo aqui, pensando o que será de mim sem ti.
apetece-me provocar-te e perguntar-te se queres um bólus de intumescimento de ego?
tenho saudades de ti, só de pensar do que será de mim quando dás um passo em frente, a caminho da porta. e atrás dela, só não te vejo, mas vejo o sopro, que sopra sempre, e tanto, para o amanhã, que nunca mais alcanço o seu vislumbre e o teu semblante.

o tempo desagrega-se em mim, sobre mim.
só amanhã te verei.
e nunca mais me chega o amanhã.
mas porque o quero? se hoje não cruzaste o teu olhar com o meu, amanhã nada mudará, e só intumescerá a solidão que há em mim, sabendo que nunca serás meu.
ai!, nunca serás meu!, -  repito-o, para a verdade ser parte de mim. nunca serás meu,  mesmo que sinta o teu beijo. o teu beijo só me é entregue, porque to ofereci. o teu beijo só repousou sobre os meus recetores e ressuscitou os meus sentires, porque eu estava ali.
parece que sinto o rasgar do desprezo lançado no teu olhar. mas porque não o deverias sentir? porque haverias de pensar em mim e ver a pessoa que sou quando estou ali?
como poderás ver-me, se estou ali?

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

não escrevo sobre nós



escrevo sobre nós.
sempre fora uma compulsão escrever sobre o que não sei o que sinto enquanto emoção.
quando não sei o que escrevo, parece que vislumbro a clareza da emoção contida, até mascarada.
sempre fora uma compulsão escrever sobre o que sei que sinto enquanto humidade quente, não liberta pelas glândulas sudoríparas.

só consigo escrever, quando deixo de tatear a coerência e sensatez e passo a tatear o teu corpo e descubro a geografia do nosso corpo como um uno, mas sempre divisível no fim do que nunca começou.

sempre deixei dançar o pensamento nas fantasias e reportei-as como o indizível ao mundo, fazendo crer, não estando certa de querer ou não, que não sou eu que as grito.

sentada, frente à chuva que não sobe, sobe o meu rejubilo de ter memória mesmo do irreal. não lhe chamem sonho. é irreal, pois não se passou no plano temporo- espacial que todos conhecemos (ou não!), mas sempre foi real para mim, porque assim tanto o desejo.

escrevo sobre nós?
escrevo sobre o que não sei de mim, quando estou junto ao que acho que somos nós.
não escrevo sobre nós.



Como fugir do inevitável que nos persegue e desespera?
Não olho, mas vejo.
Não oiço, mas sei-o.
Não falo, mas falam-me.
Nem consigo fugir.
Nem fugir consigo, nem contigo.

Como fugir da crise?...
porque faço parte da solução senão faço parte do problema?
Porque nos trouxeram o que quiseram....
 e sarcástica e ironicamente proferem que têm de nos levar o que não queremos e já não temos?

Nem consigo fugir.
Nem fugir consigo, nem contigo.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Apatia trazida pela renuncia à verdade e à vida

A apatia é a forma mais comoda da alma calar as suas próprias inquietudes perante as frustrações, as amarguras, as vontades - todos os ingredientes que as vicissitudes da vida nos trazem...
A apatia, se momentanea, pode ser um estado de indiferença afectiva encontrada até se encontrar outro estado emocional mais adaptativo.Pode ser um estado mediador, para se ganhar nitidez perante as viccissitudes, que por vezes surgem bem enovadas..pelo menos aos nossos olhos.
Para saltar do fosso da apatia, da ilusória serenidade, da sensação de impertubalidade, temos que nos aperceber onde nos encontramos, e para onde queremos ir...
Muitas vezes,sente-se um entorpecimento nos sentidos para não haver sentires...
A apatia pode ser a nossa fuga das vontades, até da vontade de prazer, que sendo este julgado como a vaidade da alma...foge-se da vontade de ter vontade.
Amigos, apatia faz parte de todos nós...mas muita entrega e fidelidade à apatia é a renuncia à verdade e à vida.
2007

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

dia 22 de setembro - lançamento do livro BAILADO ENTRE NOITES

APARECE!
DIA 22 ÀS 18:45 NA LIVRARIA CIRCULO DAS LETRAS

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011


A maioria pensa com a sensibilidade, eu sinto com o pensamento. Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

SÓ….MAS NUNCA SERÁ SÓ.

Sinto-me etilizada em corpo letárgico, abandonada com o fragor dos devaneios. Sempre senti o escamotear da sensatez nestes instantes que deixo furtar ao sono. As insónias são trazidas pela vontade de ter memória dos nossos olhares que se entrelaçaram em trocas dos segredos partilhados, mas não perfilhados pelos julgares dos outros. Quero sonhar com o disponível em memória para que todo o resto seja nada, deixando também sonhar a promessa do impossível, porque sei que me privo dele assim. Nunca li o epílogo dos desvarios, por presumir que não gosto do seu termo. Porque recorrerei eu aos sonhos como móbil para o entusiasmo pela vida, vedando as vistas às vicissitudes do agora? O vazio que deixo coabitar em mim, sem deixar espaço de coexistência a todo o resto, crava-me à índole da alma um caos que tanto me apraz, recolhendo no entanto todas as vontades e dando a mão à apatia. Mas, também não necessito das vontades, porque de nada valem quando não há oportunidades. Enfim, só….mas nunca será só.

menoita, elsa in: nas águas do verso, 2008

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

...Nas àguas do Verso...



Nas Águas do Verso

ANTOLOGIA

Se me queres encontrar podes ir às Àguas do Verso...entre 100 autores encontras-me...
Espero que tenham apreciado o encontro comigo...

Encontram-me escondida entre palavras que ecoam " só mas nunca será só".

Foi um prazer ter participado!
Espero que apreciem a leitura

quinta-feira, 10 de julho de 2008

olho sobre o vazio do meu olhar...


olho sobre o vazio...
do meu olhar....
no recreio dos meus pensamentos...
vejo neles o quente do teu corpo descoberto pelo meu olhar...
dancei a melodia dos nossos corpos entre lençóis...
adivinhas-me o prazer ainda antes de te ter...
é esta a ternura de te ter...
é ter-te sempre aqui...

em mim...
prevendo no meu olhar o que desejo de ti!


sábado, 21 de junho de 2008

longe da sanidade....perto do fim!


quase deixo sentir a brisa a roçar-me no rosto...

quase deixo passear a lágrima pelo rosto e baloiçar no canto do queixo...

quase deixo sentir a ternura da loucura...

quase deixo tomar por certo o passado não gozado...

quase deixo pairar as palavras que me esvoaçam...

quase deixo sair o que nunca me entrou...

a sanidade...


Longe da sanidade

Próxima do fim

sábado, 14 de junho de 2008

Dança....Mu...Dança....


Façamos da interrupção um caminho novo.
da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte,

da procura um encontro!

F. Sabino


MUDANÇA... MU...DANÇA ...MUDA! Na dança da mudança só não se alcança quem no ritmo da mudança não se lança Muda o mundo e todo mundo muda quem não muda fica mudo para o mundo O sujeito que rejeita as mudanças E sempre diz não às variâncias nem se sujeita a perceber que já está mudando de mundo sem querer A mudança muda e muda sem se fazer notar e Vai continuar a mudar E de tão silenciosa fica muda E muda não responde aos gritos de socorro Dos que não querem mudar!

Guilherme Santos



domingo, 16 de março de 2008



Enquanto a cor da
pele
for mais importante que o brilho dos olhos
haverá guerra.
Bob Marley

segunda-feira, 10 de março de 2008

Memórias de uma velha maluca (continuação...numa retrospectiva)

3. Os silêncios

Isabel casara-se com Mário por ser mais um capricho seu: prometera à irmã, que lhe roubaria o seu namorado após um arrufo qualquer, que nunca soube ao certo as suas circunstâncias e justificativas. Isabel era alta, atraente, com olhos azuis cristalinos, com nariz delgado, com uma brancura que contrastava quando embrulhada no corpo moreno de Mário.

Isabel conheceu-o quando este ia buscar Helena a casa. Pontual, tocava à campainha sempre às 17 horas. Ela passou a adornar-se demoradamente, aperaltando-se ao espelho, dando os últimos retoques na maquilhagem que realçava o azul dos seus olhos. Ela dizia à irmã: não te preocupes! Vai-te despachando, que eu vou abrir-lhe a porta. Está descansada! Transpunham os dois a porta que dava para a sala. Silenciosos. Nos primeiros dias não tinham tema de conversa. O silêncio era perturbador, constrangedor. Ele só olhava para o relógio de pulso. Um gesto trivial pode remeter emoções fortes e trazer à mente de uma mulher várias indagações, reveladoras da sua ambivalência emotiva: será que está farto de mim? Será que sou um tédio de pessoa? Será que está a desejar que Helena nunca mais desça, para estar na minha presença? Depois a Helena aparecia e saíam, sem sequer se despedirem dela. E ali ficava ela, à janela, a vê-los a desaparecer de mãos dadas, para a mata que havia em frente da casa.

Sabia que ambos viriam envolvidos numa cumplicidade, com os rostos figurados de cansaço, mergulhados no silêncio, o que fazia despertar a imaginação de Isabel. O silêncio entre ambos, pensava ela, assumia uma significação totalmente diferente entre ela e Mário. O silêncio entre eles era o som do amor; representava o celebrar a memória de todos os sentidos comprazidos. Quanta inveja sentia! A inveja confundia-a com paixão. Por vezes, há uma linha ténue entre os sentimentos mais possantes quando as pessoas não se conhecem, porque o auto-conhecimento e sua aceitação assusta. Isabel, desenvolvera, nesses tempos, um silêncio, como demonstra do seu rancor engolido nas entranhas da sua maldade. Um silêncio para ouvir o eco do seu sofrer. Uma alma preenchida por raiva para com as gentes diferentes da sua ruim índole. Mas o seu caracter foi-se moldando, precisamente por ter optado por uma vida que fora injuriada pela diferença.

Naqueles tempos, Isabel nunca esteve apaixonada. Quem disser que, naqueles tempos, Isabel se apaixonou está de olhos vendados para o seu íntimo. Temos de saber amar-nos para saber amar o próximo. Pode-se julgar, ignorante e precipitadamente, que ela só se amava e a mais ninguém. Mas temos que nos inteirar mais além: ela não conseguia amar ninguém porque a sua alma era consumida por uma raiva que intumescia e acabava por sufocar todos os outros sentimentos. Ela não sabia, porque não conhecia a verdade do seu ser, mas a raiva que cuspia nas poucas palavras que proferia não eram dirigidas para sua irmã, mas para si mesma, por não ter conseguido arrebatar os ânimos daquele homem. Revelo-vos já, porque não consigo controlar a minha voz: Isabel, em eras mais avançadas, quando procurava a felicidade olhou para o seu âmago e quando deu por si estava apaixonada. Apaixonada!, mas não por Mário.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

....sem eu a largar...

Fonte: net (d'aires)

No embalo da morte senti o que prevejo em ti. A azia, que o pensamento me deixou, deixou-me azeda em espírito. Carácter a se encarcerar, para encontrar o pacifico no futuro que agora vejo. Nos teus ombros, choro o que prevejo e não desejo. O teu calar deixa-me o julgar dum teu sufoco, talvez até nem sentido. Sim, se calhar nem sentido. Fica junto de mim, com a mão erguida. Deixa-me sustê-la firmemente na minha, mesmo quando não posso, porque o meu tempo não pode fazer perecer… o poder fazer. Neste bambolear que sinto na vida sequiosa de ser esquizofrénica sinto que o dever me persegue, foge, entre as sombras que o céu me vai deixando, para o juízo final - cenário por mim congeminado e por vós sussurrado, para a preparação da alma, dizem-me vós. Mas digo-vos (sim, a vós!) a preparação nunca vem, mesmo depois do inegável, do inevitável se tornar um letargo, terrificante assombro para perdurar e passar a fazer parte de um novo registo no nosso trilho. A preparação não veio, não vem e não virá. Nunca virá. Apenas a lembrança do treino da preparação ficará. Apenas a lembrança do teu eu contido, retido, absorvido, sugado pela despersonificante doença. Não és doença, deixa-me que te diga. Eu sei. Não obstante, ela levou uma parcela de ti, mas o todo da parcela fica em ti e em mim.
Um brinde a ti, meu doce pai...que fiques, de mão na minha, sem eu a largar.

sábado, 26 de janeiro de 2008

...entalada pelo tempo...empurrada pela obrigação


entalada pelo tempo
empurrada pela obrigação.
as letras têm-me feito companhia aos ouvidos e à retina, com e sem sentido para o saber, para o aplicar numa realidade praxeológica a ocupar as horas de dia.
entre as páginas a ler e reter sentidos, vejo-me aqui para um ali, não sei aonde. tanto suor neuronal para um amanhã cioso de ser concretizado e remunerado, mas quase certo que será um presente depois de amanhã. um futuro igual ao dia de hoje, pois nos dias de hoje a dedicação ao saber é um garante para nos fecharem no cofre para ninguém ouvir a voz da sabedoria, para não acordar os direitos (que se encontram na chacinia das suas mãos) e eles darem mais do que migalhas.

Nota
aqui vos deixo um abraço amigo a todos os fieis do
caos. quero deixar em nota que o meu desaparecimento deve-se a uma obrigação que me impus para gerir tempos para conseguir trabalhar e estudar. voltarei. deixo-vos com o meu sorriso que me deixa as rugas que aprecio pelo seu significado (- vida vivida e acompanhada por sorrisos e emoções expressas na facies) e quero vos deixar com um sorriso....já sabem, o lema da vida: don't worry...be happy!!! smile!!

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Boas festas.....amigos e poetas!!!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

a todos...a voces...aos fieis!!......


Deixarei de existir durante uns tempos....voltarei talvez um dia....quando voltar bater-vos-ei à porta!!!!
Deixo-vos com as reticências da minha vida que por vezes somos obrigados a deixa-las perdurar um pouco nela...por vezes são a única solução.
já sabem: fiquem sempre bem....sorriam para a vida!!!

(...)

sábado, 13 de outubro de 2007

Fusão dos corpos...

Segundo a mitologia grega, a humanidade era constituída pelos Andros (de entidade masculina composta por oito membros e duas cabeças), pelos Gynos (de entidade feminina de características semelhantes aos andros) e pelos androgynos (compostos por metade masculina, metade feminina). Eles exprimiam a totalidade, o poder, o ser absoluto. Com o decorrer do tempo, estes conseguiram superar os deuses em várias artes. Os deuses, com inveja, revoltaram-se. Então, como castigo, Zeus separou-os com os seus raios. Cada um foi cortado em duas partes, passando a sentirem-se mais fracos e incompletos. Estes seres mutilados passaram a procurar em toda a parte a sua cara-metade, a sua alma gémea.

Sempre que se encontram, ainda hoje, a atracção é tão forte, que os corpos desejam restaurar a antiga perfeição, entrelaçando-se e tentando fundirem-se. No entanto esta fusão é sempre momentânea e condenada a desaparecer, para que a identidade sobreviva e cada um possa continuar como um ser individual.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Felicidade...o que nos diz Aristóteles...


Felicidade é ter algo o que fazer, ter algo que amar e algo que esperar...

Aristóteles

A felicidade é o fim completo da vida humana, o único fim que não visa promover um outro fim. A felicidade é um fim em si mesmo que consiste numa acção virtuosa. Não é um estado, mas sim uma actividade, a mais auto-suficiente de todas.


Aristóteles acreditava em três patamares para se ser feliz: o 1º: uma vida de prazeres e satisfações; 2º - uma vida como cidadão livre, responsável, que procura o fazer o bem; 3º - procura da verdade. Neste último patamar ele aponta para uma vida como pesquisador e filósofo. Para tal é necessário tempo livre. Ninguém pode estudar sem momentos de ócio. Quem dedica todo o seu tempo à conquista da sua sobrevivência ou à procura gananciosa de mais riqueza dispõe de pouco tempo livre.

A característica fundamental da moral aristotélica é o racionalismo, visto ser a virtude acção consciente segundo a razão, que exige o conhecimento absoluto, metafísico, da natureza e do universo, natureza segundo a qual e na qual o homem deve operar.

Uma doutrina aristotélica a respeito da virtude, embora se apresente especulativamente assaz discutível, é aquela pela qual esta é precisamente concebida como um justo meio entre dois extremos (não devemos ser nem covardes, nem audaciosos, mas corajosos, nem ser avarentos, nem extravagantes, mas generosos). Este justo meio, na acção de um homem, não é abstracto, igual para todos e sempre; mas concreto, relativo a cada qual, e variável conforme as circunstâncias, as diversas paixões predominantes dos vários indivíduos. Portanto, para ele não implica que, apesar da virtude ser um hábito, todos nós não façamos desvios na nossa trajectória de vida por deliberação e decisão, desde que não caiamos nos extremos, ficando retidos neles, agarrados a um vício. Deve-se retomar o meio dos dois extremos, fazendo o caminho a caminhar. Se a virtude é, fundamentalmente, uma actividade segundo a razão, mais precisamente é ela um hábito segundo a razão, um costume moral, uma disposição constante, da vontade, isto é, a virtude não é inata, como não é inata a ciência; mas adquiri-se mediante a acção, a prática, o exercício.

Ora, esforçar-se e trabalhar com vistas na recreação parece coisa tola e absolutamente infantil. (...) A relaxação, por conseguinte, não é um fim, pois nós a cultivamos com vistas na actividade.

Aristóteles


O conceito de felicidade para Aristóteles é inverso a uma vontade de parar. O cansaço, talvez causado por uma falta de propósitos, assola a muitos. Não imaginam o que sempre me abalou quando os jornalistas perguntam às pessoas o que fariam se ganhassem o euromilhões. A resposta corrente é transversal a uma maioria: passa sempre pela vontade de parar. Para Aristóteles felicidade é agir. Constantemente. E agir bem, graciosamente, na justa medida: no tempo correcto, na intensidade correcta, na direcção correcta. Mas esta busca pelo bem Aristotélico não tem nada em comum com o conceito de bem cristão: Não está ligado à bondade e à resignação. Mas é sim um bem viver, ligado à excelência (bem fazer). E também não é uma idealização retórica ou utópica, separada de nossa vida prática. É algo que podemos efectivamente alcançar em nosso agir, tornando-nos mais felizes em cada mínimo acto.
(o supracitado é o corolário do que aprendi nas aulas de ética, de trechos da net e de alguns pareceres meus. )

És feliz? Eu?

O primeiro patamar alcancei-o como uma necessidade básica humana. O segundo patamar consegui atingir assim que fui enfermeira, que tanto me realiza. No entanto, como devem ter reparado sempre considerei-me estranha, no sentido de não me conhecer. Hoje penso que nunca me deverei conhecer. Nem o quero. Porque esta procura da minha verdade deixa-me mais feliz do que se já achasse que me conhecia. Achar, sublinho. Tentar contemplar, em frustres momentos, a consciência anónima traz-me confusão, mas deixa-me no último patamar defendido pelo autor. Procurar na fundamentação tão reiterada pelos outros tento encontrar a minha verdade. Não só contemplação. Encontrar o mundo quero faze-lo a caminhar e a procurar nas páginas as respostas. (O curso de filosofia abrir-me-á janelas. As portas quero-as fechadas.)


sábado, 29 de setembro de 2007

Hoje tornei a ver-te..olhos nos olhos...

Hoje tornei a ver-te. Hoje os nossos olhares tornaram-se a cruzar, inevitavelmente.
O teu olhar negro torna-se carregado na tua tez morena. Os teus olhos cativam o meu querer. Um olhar sedutor de um negro provocante.Tremelico. Hesito no sentido do olhar. Deixo-me perder em ti, de quando em quando. Deixo-me hipnotizar, porque gosto de tremelicar. Sentiste no meu olhar a melodia das palavras caladas? Sentiste no meu olhar os meus anseios contidos e escondidos? Aguardo pelo teu olhar.

almas insufladas guerras desejadas



"O que incita as pessoas a erguerem o punho, a pegarem numa espingarda, a defenderem juntas causas justas ou injustas, não é a razão, mas a alma hipertrofiada.

(...)

Na origem da sua luta encontra-se um amor exacerbado e insatisfeito pelo seu eu, ao qual ele deseja dar contornos bem nítidos, antes de o enviar (realizando o gesto do desejo de imortalidade (...) para o grande palco da História sobre o qual convergem milhares de olhares. (...)


A existência de ideias, cujo valor é considerado mais alto do que o da vida humana. E qual é a condição das guerras? A mesma coisa. Obrigam-te a morreres porque existe, dizem, alguma coisa que é superior à tua vida. A guerra só pode existir no mundo da tragédia; desde o começo da sua história, o homem apenas conheceu o mundo trágico e não é capaz de sair dele. A idade da tragédia só pode ser encerrada por uma revolta da frivolidade. (...) A tragédia será banida do mundo como uma velha cabotina que, com a mão no peito, declama em voz áspera. A frivolidade é uma cura de emagrecimento radical. As coisas perderão noventa por cento do seu sentido e tornar-se-ão leves. Nessa atmosfera rarefeita, desaparecerá o fanatismo. A guerra passará a ser impossível."

Milan Kundera

domingo, 23 de setembro de 2007


Duvidar de si mesmo é o primeiro sinal de inteligência
(Ojetti, Ugo)

É preciso ter dúvidas. Só os estúpidos têm uma confiança absoluta em si mesmos.
(Welles, Orson)


sexta-feira, 21 de setembro de 2007

hoje


hoje nada desejo. hoje ninguém desejo. sinto-me estranha por sentir falta do sentir da falta. hoje sinto-me tão indiferente ao desejo de ontem. hoje vazio. hoje o vazio empurra-me para a dança. yupi!!! dançar até suar.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Encontrei a voz dos ditadores. Encontrei o rosto da fome


Vocifera-se a pena
em discursos cuspidos
que nunca salvou o seu penar.
Entre apertos de mãos
acorda-se quantas migalhas se vão despejar
sem a fome calar.

Oferecidos ao solo
pereceram já de sentença registada à nascença
pela posse de melanócitos acusativos da vislumbrada diferença.
Diferença móbil para ditar o dialecto do poder.

Encontrei-os já de mucosas cianosadas
em semblantes apáticos
em corpos prostrados.
Serão depois apenas matéria que será esvanecida
restando, apenas para alguns de nós, a memória sequiosa de ser esquecida.

sábado, 15 de setembro de 2007

para quando me leres: foi hoje...


Hoje conheci-te. memorizo este dia.
Hoje conheceste-me. memoriza este dia

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Reticências da vida não me deixam caminhar

Parte I Julgo a minha vida tão oca de vazios misteriosos. Parece o desfrutar de toda aspiração. Julgo a minha vida tão recheada por tudo apreciável pelos curiosos. Parece um aglutinar do esvaído que sobrou da fumaça que sofrera expiração. Julgo a minha vida tão sem nada entre as cortinas. Parece um novo sentido nos ponteiros que norteiam as rotinas. Julgo a minha vida tão cheia de tudo o que é intolerável pelos invejosos mirado nas suas retinas. Parece a utopia em que todos ambicionam acreditar. Julgo a minha vida um embalo para o éden eu visionar. Parece um sorriso que se rasga em riso na fácies e esta se esfregar na fronha de cor âmbar.
(...)

Parte II
Mas se assim é, porque me sinto eu assim?(...)
Parte III
Será ela incompleta ou serei eu que nem sequer sei o que rematar? Serei feliz por ela estar incompleta? Desejarei eu o facto de faltar uma sua parcela, a descobrir, para continuar a sentir o sentido da falta? Terei eu inventado quase desde sempre o poder da falta? Terei eu descoberto o segredo da minha ventura ao ter inventado o que me incompleta? Serei eu de matriz ditosa ou inventei-me de tanto acreditar que sou assim? Continuo sempre com um sorriso para às escondidas definhar em curtos e sumidos ecos que vou escutando desde sempre e para sempre, ao que parece.(...)
Parte IV
A esperança nunca foi amiga para prosseguir para a tão desejada quimera. A esperança nunca deixou fazer o divórcio do pretérito que ainda deixo restar nesta agrura. A esperança é aquela que transporta toda a culpa que descarrego de cima dos ombros do desejo que auguro. A esperança lança-me os sonhos para os olhos como de poeira nefasta se tratasse para um são acordar. A esperança desenha-me o futuro que desejo e que se entrelaça com a virtualidade como parasita afastando-me da realidade que até nunca me amargurou.
(...)

Parte V
Porque me sinto eu assim, se sou feliz?
(...)
as reticências não me deixam caminhar
(...)

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Querido presidente do mundo!!

Querido presidente do mundo dedico-lhe mais uma publicação para si.

sinto-me...

Sinto as pálpebras cada vez mais a pesarem-me. Forço por as manter abertas. A força de gravidade contraria-me a pouca vitalidade aliada à meia vontade. Pestanejo para despertar-me os sentidos e não dispersar as sensações. Desisto. Fecho o olhar. Sinto-me.
De mãos atadas sinto a pele, parecendo que tacteio a epiderme e não sendo ela que me permite sentir o mundo com os seus receptores de merckel. Sinto as rugas periorbitais, como se de repente tivesse deixado fugir todo o colagénio e elastina de ontem para hoje. Franzo a testa. Sinto a pele endurecida nesse espaço do meu rosto, coberto com uns folículos pilosebaceos compridos, caídos, leves, negros que não me passam despercebidos ao entender o meu rosto. Sinto o ar a invadir-me entrando pelas narinas, lembrando-me que o respiro. Ar profundamente inspirável, vida acrescida, parece. Esboço um esgar, a que chamam de sorriso. Sinto-me.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

A vontade própria entregou-me à confusão?

As cefaleias que as insónias me trazem levaram uma parte de mim. As insónias são trazidas pela memória. Não durmo porque quero comprazer-me com as imagens que se repetem fronte à retina – parece-me. As imagens foram-me deixadas na última bagagem entregues em mãos pela vida à memória. O último episódio ficou retido na memória e todo o resto passou a ser nada. O último episódio que ficou encalhado na memória retirou espaço para todos os outros que possam ser-lhe sucedâneo. O esquecimento não enfrentará tão depressa obstáculos. O esquecimento não encontrará, com a tal brevidade esperada e desejada, o caminho de volta. E a vida para continuar sempre precisou de uma dose temperada com esquecimento para sobreviver – não verdade minha; verdade universal – se é que ela existe.

Perscruto tanto na razão os motivos do que senti e do que sinto, do que sempre desejei e estupidamente ainda desejo e nunca encontrei ilações do que me pareceu sempre ser tudo e que me continua a parecer que é tudo hoje. Sou confusa. Acho que a confusão já não é um estado. Nunca entendi bem se me deixo entregar à confusão, porque esta me deixa inebriada pela vida, recriando-a, ganhando tonalidade vista nos dias. A vida regada com confusão acorda-me para tudo o que me rodeia dentro de mim. Nunca entendi muito bem se me deixo entregar à confusão por causa das cogitações ou se tenho apetite dela porque depois me entrego a elas como almofada para não descansar. Claro, que não me parece haver coerência quando logo à partida estou a divagar sobre o conceito confusão. Não parece coexistir linearidade, coerência, lógica no conceito de confusão. Mas como gosto de me agarrar à razão para ver se me clareia os pensamentos e vislumbrar o eclipse de vez da maltida (ou feliz) confusão. A verdade é que sempre me agarrei à razão como ancora e ela nunca me salvou. Também não sei se quero ser salva. A verdade é que a confusão sempre me largou estranha, estranha comigo mesmo – o que é deveras estranho. Mas a confusão nunca me deixou derramar uma única lágrima que fosse capaz de se esfregar no meu rosto. Nunca. Óh funesta sorte!!!!

vê a verdade que te escondem

coloco as mãos à cabeça. e....as mãos continuam na cabeça, sem de lá sairem. nada fazem. mas pelo menos não vedam a vista.


video: free me de goldfinger

quarta-feira, 22 de agosto de 2007


Quando desejamos pomo-nos à disposição de quem esperamos

La Fontaine

domingo, 19 de agosto de 2007

quase 4 da manhã....


entrei na escuridão sem nada ver do que vias. vias-me sentada fronte ao teu negro queixume, que sempre me convidou a enterrar o queixo no teu ventre nu. o teu ventre nu despista-me o olhar para o céu nublado, cinza, para esconde-lo entre a palma da mão. a palma recolhe o meu medo, de não te ver na solidão. na solidão sinto o vazio que te preenche, que sempre pontapeou a distância que nos aproxima entre olhares. olhares que se cruzam na troca de segredos partilhados, esquecidos outrora, relembrados pelo esquecimento do nada. nada! sinto a invasão do nada, em que nada me norteia o sentido do dever. sinto o dever da loucura que me lança para a escada, em que tropeço até ao fim. o fim configura-se-me sempre como o inicio do teu sorriso, que sempre não quis ver. não quis ver a lágrima que há-de cair para o chão enlameado do teu quarto, onde recolho o meu corpo. o meu corpo reencosta-se na sabedoria do teu fazer bailar a anca. a tua anca sempre ensinou o meu prazer a ir tão longe, tendo poucos visto a sua longevidade. a longevidade que pretendo alcançar contigo ninguém viu, entre os secretismos sofridos por todos, nunca desvendados por nós. nós enroscamo-nos um no outro, sempre com vontade de dar mais vontade ao outro. o outro encosta o seu ombro nas nadegas descansadas. descansamos juntos no desespero de confiarmos o pleno sentido do sentir. sentimos o que o outro quer que sintamos. queremos largar-nos nos desencontros para não sermos rotineiros nos prazeres. prazeres que nem sempre me tocam, mas tocam o desejo de ser tocada. tocada sempre. tocar sempre. sempre a bailar a bacia, de convulsões vistas no culminar; entregue entre as tuas duas pernas, que me entalam. entalada encontro o acordar do estado vigil. estado vigil que devo ter perdido enquanto adormeci entre marteladas que me ofereceste e eu agradeci. agradeci ao invés de adormecer com o copo entre as pernas relaxadas. relaxada vejo melhor o que te fiz e deixei de fazer. deixei de fazer o que sempre gritaste em desespero ao ouvidos dos outros e eu não entendi. não entendi o que te fizeram sem mim. sem mim não queria que te entregasses ao bailado. ao bailado só com a presença do meu corpo desvairado de levar muito de todos. de todos sempre desejei partilhar o que todos temos e pouco oferecemos.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Sonhar...nem sempre em sonhos!!



Já estou a ser invadida pela necessidade de dormir, mas resta-me ainda a necessidade de invasão da vontade de dormir. Quero sonhar acordada, poupando horas ao tempo num sono. Quero sonhar com o disponível em memória.

(...)


Contudo, no sonho pouco partilhado por mim, em corpo repousado, sinto-me mais verdadeira do que quando acordada, enquanto juíza acordada, sempre que nego os sonhos.


Sinto-me mais povoada em sonho dormido. Deixo as outras pessoas visitarem-me livremente nos sonhos. Deixo as pessoas que coabitam em mim ressuscitarem nos sonhos. Nunca sonharíamos se fossemos um ser único, acreditem. Quero acreditar. Gosto de acreditar.
Deixo sonhar a promessa do impossível, porque sei que me privo dele assim. Deixo ter ilusões em sonhos.


Quero acordar e lembrar-me do que sonhei. Sem memória nada existiu. Não quero sonhos descartáveis; senão prefiro sonhar acordada com o disponível em memória. Ora deixem-me sonhar acordada!! ora deixem-me sonhar a dormir e lembrar-me do que sonhei!!

sábado, 4 de agosto de 2007

nunca mais os vi....nunca mais os vi....

sentem-se na mesa! sim, também me sento, obrigado. estão confortáveis? sim, também estou, obrigado. inquieta. sempre inquieta, mas confortável. o ar condicionado já está desligado. deixemos a conversa banal para depois. oiçam o que vos digo: por vezes deixo de desejar-te. não sei porquê. a ti, sim! mas assim que fantasio deixar de te ter, enquanto meu objecto de desejo, passo novamente a desejar-te... e a ti ... também te desejo, mas receio que por vezes vá deixar de te desejar. também. sei-o. a ti também, sim. e logo passo a desejar-te mais a ti. sou assim. e, prontos. entendem?! por vezes quero entregar-me à descoberta dos outros, quando entregues ao seu desejo. já sabem que tento fugir deste espaço não conquistado mas pago. já sabem que gosto de sair para onde não me vejam, mas sempre com receio que me espreitem. porque estás a olhar para o tecto? não me estás a ouvir ou não me queres ouvir? doi o que te digo? preferes a mentira ou a omissão por te anestesiar? administra-se doses de mentira por cobardia de quem mente ou por pena de quem a vai escutar. não quero uma situação nem outra. a surdez não é fuga, porque a verdade acabará por cair sempre estatelada à nossa frente. a cegueira não é fuga, porque a verdade acabará sempre por entrar pelos pavilhões auriculares. portanto, ouve-me e vê-me. olha-me bem nos olhos. não desvies o olhar, por favor. a mim também me doi, porque sei que te doi. a mim doi-me porque eu nunca serei eu. não serei eu, não por ti, nem por ti. também ,talvez, mas não principalmente. eu nunca serei eu porque nunca serei feliz. se o for será sempre longe deste espaço não conquistado mas pago.

(olharam-se. levantaram-se. e nunca mais os vi. continuei sempre com o mesmo discurso para muitos. sempre findou do mesmo modo: olharam-se. levantaram-se. e nunca mais os vi).

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Neste desejo: Não te prevejo. Não me prevejo.


Estamos no bar. Estamos sentados nos bancos. Levanto-me. Não tenho saias. Não te mostro as minhas pernas. Olho para trás. Não vens. Entro na casa de banho. Não vens. Aguardo. Não vens. Antes de abrir a porta dá-me um estremeção no estômago quando imagino que possas estar do outro lado da porta. Abro-a. Não vieste. Saio da casa de banho, sem deixar rasto.



Estamos no bar. Estamos sentados nos bancos. Levanto-me. Não tenho saias. Não te mostro as minhas pernas. Olho para trás. Não vens. Entro na casa de banho. Não vens. Aguardo. Não vens. Antes de abrir a porta dá-me um estremeção no estômago quando imagino que possas estar do outro lado da porta. Abro-a. Estás a olhar para mim, com a cabeça de soslaio. Olhos fixos nos meus. Dá-me outro estremeção no estômago. Sinto as pernas a bambolearem-se. Tento não transparecer a minha excitação. Forças a porta da casa de banho e empurras-me para dentro. Levantas-me a blusa de modo violador. Não há perguntas. Não há permissões orais. As minhas calças já se encontram mais abaixo de onde se encontravam ainda há pouco. Ofereço o meu corpo ao teu. Colocas-me as mãos na parede. Ambas, friso. Fico de costas para ti. Empurras-me contra ti, pegando-me na cintura. Experimentas a sensação comigo assim. Depois a sanita tapada torna-se um banco para os nossos afazeres sexuais. Muito conveniente. Saímos os dois da casa de banho, não deixando rastos.



Estamos no bar. Estamos sentados nos bancos. Levanto-me. Não tenho saias. Não te mostro as minhas pernas. Olho para trás. Não vens. Entro na casa de banho. Não vens. Aguardo. Não vens. Antes de abrir a porta dá-me um estremeção no estômago quando imagino que possas estar do outro lado da porta. Abro-a. Estás a olhar para mim, com a cabeça de soslaio. Olhos fixos nos meus. Dá-me outro estremeção no estômago. Sinto as pernas a bambolearem-se. Tento não transparecer a minha excitação. Transponho a porta da casa de banho e dirijo-me para o lavatório comum aos homens e mulheres. Tu balbucias alguma coisa. Tento não escutar. Tento anestesiar-me. Tento algemar o desejo. Tento fugir sem sair dali. Tu pegas com veemência num pedaço do meu glúteo esquerdo. Agarro na tua mão. Olho-te nos olhos. Pára, suplico. Mas, tu sabes que quero que continues, mas não sei se sabes que eu não sei se deva desejar que continues. A dúvida lançada e tropeçada na mente ficou lá encalhada e de lá não sai. A dúvida prevalece e domina o dever sobre o querer. Empurro-te com força. Pára, torno a suplicar. Saímos os dois da casa de banho, não deixando rastos.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Memórias de uma velha maluca

Continuando com a história de "memórias de uma velha maluca" para os fiéis que a acompanham. .. este trecho é sobre uma manhã de Mário, em que já conhecia Isabel e tentava ter filhos, mas esta ainda não conhecia a miuda de rua ( a velha maluca que narra a história na primeira pessoa).

8 – Uma manhã de Mário

Mário, depois de mais uma vez ter feito sexo com Isabel noutra posição, levantou-se da cama e deixou-a a dormir. Foi para a janela. Eram 5 da tarde, viu ele no relógio. Pela primeira vez depois de muito tempo pensou em Helena, na descontraída vida que levara até então. Recordou todas as amantes que tivera. Veio-lhe à memória a fogosidade de Isabel que tanto o atraía. Ele ainda a amava, mas temia que ela não sentisse mais nada por ele, temia que ela o visse apenas como um portador de espermatozóides com qualidade capaz de dignifica-la com a vinda dum bebé. Pensou que talvez tivesse embarcado no rumo que ela o conduzira. Ela numa noite sonhou que estava grávida e a partir de então desejou e fez desejar a responsabilidade de ter um filho. Agora, também, obstinado pela ideia da concepção de um filho nem faziam amor. Que angustiante! – pensou. Encontrava-se a olhar pela janela. Olhava mas não via nada. Via em sua frente o passado, o corpo de Isabel encavalitado no dele, das palavras ríspidas dela: nesta posição não dá! Levanta-me a anca, pode ser que dê melhor. Faz devagar! Nas suas relações sexuais não havia espaço para a espontaneidade, para a liberdade. (No sexo recria-se a liberdade). Sentia-se de tal forma controlado, que por vezes parecia que o seu pénis estava a ser vigiado por uma câmara de filmar.

Agora apreciava o céu azul; era o azul que afagava as suas inquietações. Mergulhado em cogitações, deixou cair a cabeça, como com o peso das indagações, embatendo de leve no vidro da janela:
quando este desejo passou a ser meu também? como passou a ser meu se não o era até à data? e se por acaso não o satisfizesse deixar-me-ia, abandonar-me-ia? Ficaria a saber se ela de facto ama-me, capaz de saltar os obstáculos estacados pela vida de mãos dadas comigo? ou se largar-me-ia?

O sol estava a ofuscar-lhe a vista. Teve de semicerrar as pálpebras para se proteger do poder nefasto daquela luz. Por momentos deixou de pensar em Isabel – via tudo amarelo. Libertou-se por momentos dos pensamentos. Deixou-se ficar num estado de apatia, com o rosto erguido para a paisagem. A luz libertou-o. Pensou no simples facto de ter deixado de pensar nela, quando sentiu uma invasão poderosa da luz. Era o incomodo que o libertava. Parecia que o sofrimento físico desviava-o das obsessões.

(...)

Logo a seguir apreciou as nuvens baixas que assumiam vários tons, cinzento, cor de rosa, com o sol a querer espreitar por entre elas. Lindo! Sentiu uma lágrima a escapar do canto do olho e a escorrer pelo rosto abaixo, fazendo-lhe cócegas. Não derramava lagrimas por se sentir triste, mas por sentir um enternecer pelo esplender do quadro vivo que se deparava perante o seu corpo nu. Afinal, o ideal não seria castigar o corpo para libertar a mente, mas sim abrir a mente ao mundo. Focalizou-se nos aspectos positivos da sua vida: tinha algum dinheiro no banco, uma cama com tecto, o estômago confortável, o frigorifico bem recheado de comida, água potável e uma sanita onde podia libertar os detritos do corpo. Confortou-se com a possibilidade de todos os homens terem problemas e uns bem mais graves do que os dele.

Eu preocupava-me com a busca incessante de comida e de um canto para dormir e outro para urinar e obrar; Mário preocupava-se com a sua vida matrimonial. Isabel com os seus vários caprichos; Helena com a falta de telefonemas do homem que a renegou noutros tempos.

sábado, 21 de julho de 2007

quarta-feira, 18 de julho de 2007

A solidão não se mede em metros


Estou só. Não sei se me apetece deixar de estar só.
A solidão sempre me acompanhou até à independência, mas também me prometeu coloração à melancolia. Não procuro companhia. Se quisesse companhia procurava na religião o reconforto sempre presente.
Agrada-me estar virada para a parede, e não me voltes. Deixa-me só nesta sala exígua, em que me perco para me reencontrar. Parece tão egocêntrico a necessidade de olhar para dentro de mim. Julgo que sempre que me olho em solidão vejo os olhos da multidão. E aí vos compreendo.


Como sabes, sempre considerei que é fácil viver dentro das conformidades da multidão, como também o é viver de acordo consigo próprio na solidão. Fujo da unicidade exprimida sempre em uníssono, mas recolho-me na solidão, continuando a acomodar-me nos facilitismos que não magoam. Não obstante, estando só costumo atrever-me à exposição, gritando, – e tu sabes que é verdade!, o que todos pensam pela surdina quando estão sós. Quando estou só estou livre.

Não julgues que a solidão é medida. A solidão não é medida é sentida. A solidão não é medida pelas milhas de espaço que distam entre nós e os nossos iguais. A solidão não é medida, só sentida enquanto esperamos deixar de estar acompanhados pela solidão.

Estou só e feliz enquanto espero deixar de estar só.
Estou só e não sei se me apetece deixar de estar só.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Antes do abrir da porta

estou encostada à parede. passo a mão para sentir sua textura. é rugosa. imagino que me lanças com fogosidade contra ela. não tem pregos. não me deverei ferir. sim!, aqui podias-me encostar com força e abrir-me a camisa. vejo o chão e parece-me escorragadio. ah, se calhar quando chegares a casa atiras-me para o chão e levantas-me pela bacia. faltam-me almofadas aqui, penso. vou caminhando. chego à cozinha. a bancada é muito alta. se me pegares, com toda a tua força, e me pousares em cima dela não fico onde me queres. a mesa. sim!, a mesa é mais baixa. e também temos as cadeiras em que te podes sentar e eu faço-me como que esquecida e sento-me em cima de ti, de frente ou detrás, como quisermos no momento. o quarto. ai, não gosto de rotina. abomino. continuo. ah, lembrei-me!! na garagem, a tua mota. mas não é cómodo. em alternativa, a cozinha do quintal. a arca virada ao contrário ganha comprimento para nós, com as almofadas dispostas a gosto. o jardim já está vedado. em noites quentes as cadeiras não estão empilhadas. tenho os cenários congeminados. oiço o abrir da porta. és tu.

domingo, 15 de julho de 2007

Deito-me no sofá



5 da tarde ... deito-me no sofá. abro as pernas. ergo-as. sinto-as edemaciadas, mas não o estão. coloco uma almofada sob elas. sinto os olhos indecisos em fechar, mas não me apetece dormitar- perda de tempo. mas ao estar acordada também não estou vigil. olho para o tecto falso - como muitos tectos que construímos na vida. desnorteio-me de tanto pensar que deveria em nada pensar. muitas vezes a construção em falso é tão rectificada em falso, e sempre em falso, que já não sabemos a veracidade escondida na falsidade construída. enfim!!... sinto lipotimias sucessivas estando deitada ... parece que estou etilizada em corpo letárgico. oiço ruído ... não descodifico o sentido da sonoridade. é um som- isso eu sei. parece que o oiço bem ao longe em espaço e tão perto do que fui, enquanto gente fardada. fixo o olhar até ganhar nuvens na visão. lanço o braço. quero agarrar o indefinido- sempre é mais nítido e coerente do que a realidade que defini em falso.

(...)


deixo os ponteiros do relógio dispersarem em campo circular outrora definido por outrem, que não eu. eu não acredito no tempo. e ele não acredita em mim. nunca cedeu aos meus pedidos suplicantes, até. o tempo vive, mas nem sempre deixa viver. nem sequer é firme na sua definição de linearidade temporal, porque tanto o vejo a saltar para o passado como galga para o futuro. sofre de mutações pendendo tanto para a velocidade como para a lentidão. parece correr ou parar consoante as vicissitudes das nossas vidas. o tempo nunca desculpou os nossos pecados nem escutou as preces de todos. só é fiel aos não viventes, porque para eles é gélido, sem pressa de vida, coarctando toda a esperança de vencermos na ressuscitação saltada das campas . o tempo só dá tempo a quem já não precisa de vida- só têm o seu nada em que nada lhes serve a paragem de tempo. deixo, porque tenho deixar, os ponteiros do relógio dispersarem.


(...)


continuo a escutar o som. assume volume, parece. o sentido de curiosidade vai-me acordando para descortinar o código que foi segredado aos viventes para saberem ler todos os sons. tento ouvir. o sentido do dever obriga-me a abrir os olhos que sempre se encontraram abertos. o coma, a que me forcei a confiar, fez-me o divórcio da realidade- a qual me queria ausentar. não queria ouvir, mas como oiço um sonido sinto que tenho que ouvir, nem que um grito. somos tão carregados de deveres, como trelas se tratassem, balizando a nossa necessidade de ausência para catarse e nos aproximarmos da liberdade. o som volve à audição incessantemente. é uma chamada. chamam por mim. oiço meu nome acompanhado por outra palavra- qual não sei. oiço sumidamente. longinquamente. o sentido soberano do dever parece que me obriga o pavilhão auricular a abrir, e descodificar o som antes sumido agora vociferado.

(...)

ah, sim estou no trabalho. oiço a chamarem por mim. precisam de mim. é uma doente que chama. e eu que me imaginava já em casa, de pernas estendidas, esticadas no sofá, a olhar para tecto, a partilhar um repouso... com os pensamentos...